Blender no Oscar: Como “Flow” Ganhou a Estatueta Usando Software Livre

Dirigido por Letão Gints Zilbalodis, o filme venceu o Oscar de Melhor Longa-Metragem de Animação.

Neste ano de 2025, o cinema mundial testemunhou um marco histórico: O filme Flow, dirigido por Letão Gints Zilbalodis, venceu o Oscar de Melhor Longa-Metragem de Animação.

Da esquerda para a direita: Gints Zilbalodis, Matiss Kaza, Ron Dyens e Gregory Zalcman .

Flow é uma animação independente da Letônia, dirigida por Gints Zilbalodis. A história segue um gato solitário que, após uma grande inundação, busca abrigo em um barco habitado por diversas espécies. Sem diálogos, o filme utiliza imagens impactantes para transmitir sua narrativa, explorando temas como sobrevivência, cooperação e renovação.

Além de levantar reflexões sobre o impacto humano no meio ambiente, Flow se destacou em festivais e premiações, incluindo o Globo de Ouro. Sua produção inovadora foi inteiramente realizada com o software open-source Blender​.

Produzido entre Letônia, França e Bélgia, destacou-se não apenas por sua narrativa, mas também por sua produção técnica por ter sido o primeiro filme de animação a ter sido totalmente animado e renderizado no Blender, desafiando a hegemonia de ferramentas comerciais como Maya e Cinema 4D.

A produção contou com financiamento do Centro Nacional de Cinema da Letônia, da Fundação Capital Estatal da Cultura da Letônia, além de coproduções com ARTE France e Eurimages. O sucesso do filme comprovou que o Blender, desenvolvido de forma colaborativa e aberta, é capaz de competir em igualdade técnica com soluções proprietárias.

Além do Blender, que foi o software principal usado na produção da animação Flow, outras ferramentas foram utilizadas no pipeline de produção, embora não tenham sido amplamente divulgadas. O filme se destaca por seu uso inovador do Blender, para modelagem, animação e renderização 3D.

Também foi usado na produção ferramentas auxiliares para composição, edição de som e efeitos visuais. Foi usado Softwares open source como GIMP (para texturas e edição de imagens), Krita (para arte digital e concept art) e o próprio Blender para correção de cor e edição, além do Audacity (para mixagem de áudio).

O mais interessante no uso desses programas, é perceber que nenhum deles é proprietário.

Por que usar o Blender?

O Blender é um software de código aberto para modelagem 3D, animação, renderização e pós-produção, conhecido por sua versatilidade e desempenho. Para o filme Flow, além da curva de aprendizagem mais suave, acessibilidade e recursos técnicos específicos foram essenciais. Dentre as ferramentas e recursos se destacam:

Renderização em Cycles e EEVEE:
    
    Cycles: O motor de renderização baseado em path tracing foi usado para criar iluminação realista e sombras complexas, essenciais para as cenas atmosféricas do filme.


    EEVEE: O motor de renderização em tempo real permitiu pré-visualizações rápidas, otimizando o fluxo de trabalho da equipe.

Modelagem e Rigging:

    Ferramentas como o Sculpt Mode e o Grease Pencil foram usadas para criar personagens detalhados e animações 2D integradas ao ambiente 3D.

    O sistema de rigging automático do Blender (com Auto-Rig Pro ou ferramentas nativas) agilizou a animação de personagens, como o protagonista felino do filme.

Simulações Físicas:

    Para cenas de água, vento e partículas, o Blender ofereceu módulos como Fluid Simulator, Cloth Simulation e Particle System, combinados com o Physics Cache para otimizar o processamento.

Integração com Pipelines Profissionais:

    O filme utilizou o USD (Universal Scene Description), formato da Pixar, integrado ao Blender para compatibilidade com estúdios internacionais.

    Plugins como Blender to Unreal Engine facilitaram a exportação de assets para engines de renderização final.

Como é feita a Administração da ferramenta, se ela “não tem dono”?

A Blender Foundation, organização sem fins lucrativos responsável pelo desenvolvimento do software, é a força motriz por trás de sua evolução técnica. Seu modelo de governança inclui:

Desenvolvimento Colaborativo:

Uma equipe fixa de desenvolvedores contratados trabalha em conjunto com voluntários da comunidade. O código-fonte é aberto, permitindo contribuições globais.

 Blender 4.4:

A versão usada em Flow trouxe melhorias, como suporte a ray tracing via NVIDIA OptiX e AMD HIP, além de otimizações no sistema de partículas.

Projetos Open Movies:

Filmes como Big Buck Bunny (2008) e Sintel (2010) servem como laboratórios para testar novas funcionalidades. Por exemplo, Sintel impulsionou o desenvolvimento de ferramentas de animação facial e dinâmica de fluidos.

Financiamento Sustentável:

Blender Development Fund recebe doações de empresas como Epic Games, NVIDIA e Google, além de indivíduos.

Blender Cloud:

Plataforma de assinatura que oferece tutoriais avançados (ex: “Animação de Criaturas Realistas”) e assets prontos (modelos, texturas, rigs), financiando a fundação.

Educação e Recursos:
A Blender Cloud é um pilar educacional e financeiro para a comunidade. Seus recursos incluem:

Cursos Técnicos:

“Renderização com Cycles e EEVEE”: Ensina a dominar motores de renderização.
“VFX no Blender”: Aborda simulações de destruição e integração live-action.

Assets para Produção:

Bibliotecas de modelos 3D (ex: veículos, cenários), materiais PBR (Physically Based Rendering) e rigs de animação pré-configurados.

Documentação Profissional:

Manuais técnicos sobre scripting em Python para automação de tarefas e integração com pipelines de estúdio.
Blender na Indústria: Além de Flow

Conclusão

A vitória de Flow no Oscar não é apenas um marco para a animação independente, mas também uma demonstração do potencial dos software livre na indústria cinematográfica. O uso do Blender na produção do filme reforça como ferramentas acessíveis podem oferecer qualidade excepcional, desafiando a hegemonia dos estúdios tradicionais e seus softwares proprietários.

Além de permitir uma produção mais econômica, o Blender possibilitou que Flow explorasse uma estética única, combinando técnicas inovadoras com uma narrativa visual envolvente. Esse sucesso inspira artistas e estúdios independentes a adotarem soluções open source, ampliando as possibilidades criativas sem as barreiras de altos custos de licenciamento.

Com esse reconhecimento, Flow não apenas celebra sua conquista no Oscar, mas também abre caminho para uma nova era na animação digital, onde softwares livres podem ser protagonistas de grandes produções.

O Oscar do filme Flow consolida uma trajetória de sucesso do Blender no cinema, iniciado em 1996 com a animação brasileira Cassiopeia, passando por filmes de sucesso como Sintel (2010),
disponível sob licença Creative Commons, com todos os arquivos de produção abertos,  Charge (2022) e o sucesso da Netflix Next Gen (2019). Tal conquista provou que ferramentas livres e de código aberto podem ser tão eficientes para produções cinematográficas quanto ferramentas produzidas por grandes empresas.

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