Quando falamos em desenvolvimento de interfaces gráficas no mundo Linux — e fora dele — dois nomes sempre aparecem: GTK e Qt. Ambos são toolkits maduros, poderosos e amplamente utilizados em projetos reais, desde aplicações simples até softwares profissionais conhecidos mundialmente.
Mas afinal, qual usar? A resposta curta é: depende do contexto, do objetivo do projeto e do ecossistema que você quer atingir. Neste artigo, vamos entender o que é cada um, ver exemplos práticos (incluindo Hello World), conhecer softwares famosos feitos com cada tecnologia.
O que é GTK?
O GTK (GIMP Toolkit) surgiu inicialmente como a biblioteca gráfica do GIMP, mas rapidamente se tornou o padrão do ecossistema GNOME. Hoje, ele é utilizado em inúmeros aplicativos clássicos do desktop Linux.
Apesar de muita gente associar o GTK apenas ao Linux, ele também é multiplataforma, com suporte a Linux, Windows e macOS. No entanto, seu foco principal sempre foi o ambiente Linux e a integração profunda com o GNOME.
Pontos fortes do GTK
- Livre e open source (licença LGPL);
- Integração profunda com o GNOME;
- Multiplataforma (Linux, Windows e macOS);
- Leve e ideal para aplicações simples e médias;
- Suporte a várias linguagens: C, Python, Rust, Vala, entre outras.
Pontos fracos do GTK
- Documentação nem sempre amigável para iniciantes;
- Mudanças significativas entre grandes versões;
- Aparência fortemente dependente do tema do sistema.
Exemplos reais de programas feitos com GTK
Alguns softwares bastante conhecidos usam GTK como base:
- GIMP – Editor de imagens profissional.
- GParted – Ferramenta gráfica de particionamento de discos.
- Inkscape – Editor de gráficos vetoriais.
- GNOME Files (Nautilus) – Gerenciador de arquivos do GNOME.
- GNOME Terminal.
Vale destacar que GIMP e Inkscape rodam também no Windows e macOS, mostrando que o GTK é, sim, multiplataforma.
Hello World em GTK (Python)
import gi
gi.require_version("Gtk", "3.0")
from gi.repository import Gtk
class Janela(Gtk.Window):
def __init__(self):
super().__init__(title="Hello World GTK")
self.set_border_width(20)
botao = Gtk.Button(label="Clique aqui")
botao.connect("clicked", self.on_click)
self.add(botao)
def on_click(self, widget):
print("Olá, GTK!")
janela = Janela()
janela.connect("destroy", Gtk.main_quit)
janela.show_all()
Gtk.main()
O que é Qt?
O Qt é muito mais do que um toolkit gráfico: ele é um framework completo para desenvolvimento de aplicações. Ele fornece recursos para interface gráfica, rede, banco de dados, threads, multimídia e muito mais.
Desde sua concepção, o Qt foi pensado como multiplataforma por natureza, permitindo criar aplicações que rodam de forma consistente em Linux, Windows, macOS, Android e iOS.
Pontos fortes do Qt
- Framework extremamente completo.
- Multiplataforma por design (desktop e mobile).
- Ferramentas visuais poderosas como Qt Creator e Qt Designer.
- Interface consistente entre diferentes sistemas.
- Muito usado em software livre e também em projetos comerciais.
Pontos fracos do Qt
- Licenciamento mais complexo (GPL e licença comercial).
- Mais pesado para aplicações muito simples.
- Curva de aprendizado maior.
Exemplos reais de programas feitos com Qt
O Qt é a base de muitos aplicativos populares:
- Krita – Software profissional de pintura digital.
- Kdenlive – Editor de vídeo poderoso e multiplataforma.
- VLC – Player multimídia amplamente conhecido.
- qBittorrent – Aplicação de envios e recebibentos p2p
- KDE Plasma (ambiente gráfico inteiro baseado em Qt)
Esses programas deixam claro o foco do Qt em aplicações grandes, robustas e multiplataforma.
Hello World em Qt (C++)
#include <QApplication>
#include <QPushButton>
int main(int argc, char *argv[]) {
QApplication app(argc, argv);
QPushButton button("Hello World Qt!");
button.resize(200, 60);
button.show();
return app.exec();
}
Outros exemplos rápidos
GTK – Campo de texto simples (Python)
entry = Gtk.Entry()
entry.set_text("Digite algo...")
self.add(entry)
Qt – Caixa de mensagem (C++)
#include <QMessageBox>
QMessageBox::information(nullptr, "Mensagem", "Olá do Qt!");
Quando usar GTK?
- Quando o foco é Linux e GNOME.
- Quando você quer algo mais leve.
- Quando prefere linguagens como Python, C ou Rust.
- Quando busca uma licença mais permissiva.
Quando usar Qt?
- Quando precisa de uma aplicação realmente multiplataforma.
- Quando o projeto é grande e complexo.
- Quando quer ferramentas visuais avançadas.
- Quando precisa manter aparência consistente entre sistemas.
Conclusão
No fim das contas, não existe um vencedor absoluto. O GTK e o Qt são excelentes ferramentas, cada uma com sua filosofia e seu público.
O GTK brilha no ecossistema GNOME e em aplicações clássicas do Linux, enquanto o Qt se destaca pela robustez e pela facilidade de levar o mesmo aplicativo para vários sistemas operacionais.
A melhor escolha depende do seu projeto, do seu público e principalmente de com qual ferramenta você se sente mais confortável. Se puder, experimente as duas. No mundo do software livre, aprender nunca é perda de tempo.