A escolha certa do formato de arquivo no Linux é importante para ter uma excelente performance, foco em segurança e também para quem busca mais estabilidade. Contudo, a maior parte dos usuários leigos estão mais acostumados com um único formato: NTFS.
A escolha não é uma escolha, já que o formato é uma obrigação na instalação padrão do Windows, onde é exigido este tipo de formato de arquivo para a instalação do sistema no disco rígido, sendo a única que ele reconhece.
O problema começa quando o usuário decide migrar de Sistema Operacional e descobre um novo mundo de possibilidades, onde, entender os diferentes tipos de formatos de arquivos do Linux é vital para uma boa instalação que atende a todas as suas necessidades.
Por que existem vários Formatos de Arquivos no Linux?
Primeiro, você precisa entender que estamos falando sobre a forma que os arquivos são gravados no seu Sistema Operacional.
É como se houvesse uma lista de regras sobre como os arquivos no Linux serão gravados no sistema, além de construir uma estrutura lógica que permitirá ao sistema operacional ter controle e acesso a todos os dispositivos de armazenamento da máquina. Aqui entendemos como HD, SSD, Pendrive, etc.
Esse sistema organiza as pastas internas de forma hierárquica, como se fosse uma árvore com vários galhos. Você já deve ter visto isso em funcionamento quando acessou os Arquivos de Programa do Disco Local C: ( No Windows) e viu tudo separado por pastas, onde a pasta principal funciona como um galho, dividindo em categorias e colocando as subcategorias em pastas dentro de pastas.

Também garante que cada arquivo tenha um nome único, evitando arquivos duplicados e, por consequência, evitando problemas.
Dito tudo isso, fica mais fácil de entender que, com esse poder todo, cada formato foca em um objetivo específico. O formato de arquivos no Linux que você escolher, pode focar somente em Estabilidade, em Segurança ou em lidar com um volume (quantidade e peso) massivo de arquivos.

Neste guia completo, vamos conhecer os principais tipos, entender seus aspectos técnicos e compreender a diferença entre os formatos de arquivos no Linux.
Bônus: Ao fim do texto, entenda porquê você sempre é orientado a escolher FAT32 na formatação do seu pendrive bootável.
Conheça os principais Formatos de Arquivos no Linux:
São eles:
- EXT3;
- EXT4;
- BTRFS;
- EXFAT.
Mas, afinal, o que são esses tipos de arquivos? Bom, vamos começar pelo mais antigo primeiro!
O que é o EXT3?
O EXT3 é amplamente conhecido por ser um sistema legado (velho), presente principalmente em sistemas mais antigos e que já não possuem mais atualizações. O EXT3 possui alguns modos de journaling, que é responsável pelo registro das operações antes de aplicá-las ao disco.
- Tipo: Filesystem de propósito geral para o Linux
- Motor de Journal: JBD (Responsável pelo registro das operações antes de aplica-las ao disco, facilitando o processo de recuperação.
Escolhidos via opção de montagem data=
:
- ordered (padrão)
- Dados do arquivo são gravados ao disco antes da metadata ir para o journal.
- Bom equilíbrio entre segurança e desempenho.
- writeback
- Só a metadata é ordenada; dados podem ir depois.
- Mais rápido, menos seguro (após queda de energia, arquivos podem conter lixo recente).
- journal
- Dados e metadata vão para o journal antes do disco.
- Mais seguro, mais lento (escreve duas vezes).
Outras opções relevantes:
commit=5
(padrão ≈ 5s): janela de tempo para flush do journal (aumentar reduz perda em falhas, diminui performance).barrier=1
(protege contra reordenação do cache do disco; desativar é arriscado em alguns storages).noatime,nodiratime
reduzem escritas em workloads de leitura.
Limites e capacidades
- Tamanho máx. do FS: ~16 TiB (com blocos de 4 KiB; limite por endereçamento de blocos 32-bit).
- Tamanho máx. de arquivo: ~2 TiB (devido ao esquema de blocos indiretos).
- Arquivos por diretório: com HTree na prática bem alto; sem HTree fica lento com muitos arquivos.
- Subdiretórios: limite clássico de ~32 k por diretório (o EXT4 remove essa restrição).
- Timestamps: 32-bit → problema do ano 2038 em cenários de longo prazo.
- Recursos: POSIX ACLs e extended attributes (via
acl,user_xattr
), quotas, online resize limitado.
Desempenho e comportamento
- Arquivos grandes: sem extents, pode fragmentar e ficar mais lento que EXT4/Btrfs.
- Muitos arquivos pequenos: com
dir_index
, listagens e buscas melhoram bastante. - fsck: rápido para “replay do journal”, mas um fsck completo em volumes multi-TB é lento (sem checksums/estruturas modernas de verificação).
- SSD/flash: journaling aumenta escrita; use
noatime
,commit=
maior e mantenhadiscard
via TRIM sob controle (melhor por fstrim periódico).
Estabilidade e integridade
- Maduro e muito estável, mas:
- Sem checksums de dados e sem detecção/correção de bit rot (ao contrário do Btrfs/ZFS).
- Journal foca em consistência de metadata; não evita perda de dados recentes (apenas ajuda a não corromper a estrutura).
Quando ainda faz sentido usar
- Sistemas legados/kernel antigos, bootloaders velhos, appliances antigos.
- Ambientes que exigem compatibilidade com ferramentas que esperam EXT3.
- Partições pequenas/simples onde EXT4 não traz ganho prático.
Quando não usar
- Volumes/arquivos >2 TiB.
- Workloads com snapshots, checksums fim-a-fim, compressão ou RAID no FS (
Btrfs/ZFS são melhores
). - Servidores modernos e desktops — EXT4 quase sempre é superior em 2025.
O que é o EXT4?
O EXT4 surgiu oficialmente como código estável no kernel Linux 2.6.28, lançado em dezembro de 2008, tornando-se no sistema de arquivos padrão do Linux.
Sucessor do EXT3, com foco em escalabilidade, desempenho e confiabilidade, mantém compatibilidade retroativa: um FS EXT3 pode ser montado como EXT4 sem precisar formatar.
Mas qual a diferença entre o EXT3 e o EXT4? Bom, além de ser mais novo, o EXT4 conta com algumas melhorias com relação ao seu antecessor:
Extents (substituto dos blocos indiretos)
- No EXT3, arquivos grandes usavam ponteriores indiretos ou seja, são fragmentados e apresentam lentidão;
- No EXT4, os arquivos gravados em extents (faixas contínuas de blocos, até 128MiB cada). → Essas mudanças reduzem a fragmentação e aceleram a leitura/gravação de arquivos maiores.
Alocação Tardia (Delayed Allocation)
- Dados Ficam na RAM por mais tempo antes de serem alocados ao disco.
- Permite que o sistema encontre áreas contínuas maiores para escrever e garante menos fragmentação e melhor desempenho.
- Riscos: em caso de queda de energia, arquivos recém-criados podem acabar zerados (Não corrompe o sistema de arquivos mas o conteúdo pode acabar sendo perdido).
Journaling mais eficiente
- Mantém os mesmos modos de journaling EXT3 (
ordered, writeback, journal
). - Mas com checksums no journal → Menos chance de inconsistência.
- Desempenho melhor em recuperação após falha.
- Limites maiores.
- Tamanho máximo do FS: até 1 exbyte (EB).
- Tamanho máximo de arquivo: até 16TB.
- Número de subdiretórios: ilimitado (EXT3 possuí limite de
~32k
) - Alocação Multibloco.
- O EXT4 pode alocar vários blocos de uma vez para um arquivo, em vez de bloco a bloco → Menos overhead, mais desempenho.
- Desempenho em diretórios grandes.
- Usa HTree (hash tree) para indexação.
- Listar/buscar em diretórios com milhares/milhões de arquivos é muito mais rápido.
- Backward Compatibility.
- Você pode montar partições EXT3 como EXT4 (sem os novos recursos).
- Também pode converter EXT3 para EXT4 com
tune2fs
Recursos extras do EXT4
- Extents + Multiblock Allocation → Menos fragmentação.
- Defrag online com
e4defrag
- Sub-second timestamps (nanosegundos, útil em bancos de dados).
- Online resize (aumentar a patição montada)
- Persistent preallocation (fallocate) → útil em bancos de dados e sistemas de vídeo
- Barreiras de Gravação → segurança contra reorder do cache do disco.
- Journal Checksum → journal mais confiável.
Limitações e o que NÃO tem
- Não tem checksums nos dados (apenas no journal).
- Não tem snapshots nativos (como Btrfs/ZFS).
- Não tem compressão transparente.
- Não tem de-duplicação
→ Ou seja: EXT4 é estável e confiável, mas não tem os recursos “modernos” que o Btrfs ou ZFS oferecem.
Performance
- Excelente em uso geral (sistema desktop, servidores web, VMs).
- Muito bom em arquivos grandes (vídeo, jogos, imagens de VM).
- Ainda eficiente em muitos arquivos pequenos (com
dir_index
). - Menor overhead que Btrfs → mais rápido em carregamentos de trabalhos (workloads) simples.
Para quem é recomendado?
✅ Melhor escolha quando você quer:
- Estabilidade máxima em Linux.
- Alto desempenho sem overhead extra.
- Compatibilidade ampla (bootloaders, kernels antigos).
- Servidores e desktops que não precisam de snapshots/compressão.
❌ Não é ideal quando você quer:
- Snapshots, clones, subvolumes → melhor usar Btrfs.
- Verificação/correção automática de corrupção silenciosa (bitrot) → melhor Btrfs/ZFS.
- Compressão nativa de dados → também Btrfs ou ZFS.
O que é o BTRFS?
Lançado em 2009, foi criado pela Oracle com o nome de B-tree filesystem (lê-se “butter-ef-es” ou “B-tree ef-es”).
Seu principal objetivo é ser o “next-gen filesystem” do Linux (nova geração de arquivos de sistema do Linux), rivalizando com ZFS.
Este formato de arquivo no Linux tem o foco em segurança de dados, recursos avançados e gerenciamento flexível.
Principais Recursos
- Copy-on-Write (CoW)
Sempre que algo é modificado, o dado é gravado em outro lugar, e só depois a referência é atualizada.
Isso possibilita snapshots instantâneos e evita corrupção de dados, mas pode causar fragmentação em workloads de muitas escritas pequenas (ex.: bancos de dados).
- Snapshots e Subvolumes
- Subvolumes: divisões lógicas dentro do FS, parecidos com partições, mas sem precisar reparticionar.
- Snapshots: cópia instantânea de um subvolume (quase sem custo). → Muito usado em backups, sistemas de rollback e distros como openSUSE/Fedora.
- Checksums em tudo
- Tanto metadata quanto dados têm checksums (CRC32C).
- Se houver bitrot (corrupção silenciosa de dados), o Btrfs detecta — e se estiver em RAID-1 ou superior, consegue corrigir automaticamente.
- Integração com RAID
- Btrfs tem RAID nativo: 0, 1, 10, 5 e 6.
- RAID pode ser balanceado, expandido ou alterado a quente (sem desmontar). RAID 5/6 ainda é considerado instável em 2025; RAID 1/10 são seguros.
- Compressão Transparente
- Com
compress=zstd
oucompress=lzo
. - Os arquivos são comprimidos/descomprimidos automaticamente.
- Traz economia de espaço e pode até melhorar desempenho em discos rápidos/CPUs modernas.
- Escalabilidade
- Tamanho máximo do FS: 16 exabytes (EB).
- Tamanho máximo de arquivo: 16 EB.
- Diretórios com milhões de arquivos → funciona bem, pois tudo é indexado em árvores B+.
- Send/Receive
- Permite enviar só as diferenças entre snapshots para outro sistema.
- Perfeito para backups incrementais e replicação.
Limitações e Desafios
- Performance variável:
- Excelente em leitura e snapshots.
- Pode ser mais lento em workloads de muitas escritas pequenas e aleatórias (por causa do CoW).
- Fragmentação: comum, mas pode ser mitigada com
autodefrag
. - RAID 5/6: ainda não 100% confiável.
- Recuperação de FS corrompido: ferramentas ainda imaturas comparadas ao
fsck
do EXT4.
Para quem é recomendado?
- openSUSE e Fedora já usam Btrfs por padrão (root + snapshots).
- Bastante usado em servidores de backup, NAS e desktops que precisam de rollback rápido.
- Não substituiu totalmente o EXT4 por quê:
- Mais complexo de administrar.
- Algumas cargas críticas ainda preferem EXT4 pela simplicidade/estabilidade.
Quando usar Btrfs:
Se você quer:
- Snapshots e rollback rápido (atualizações do sistema, servidores).
- Detecção/correção automática de corrupção de dados.
- Compressão transparente.
- Gerenciar várias partições/volumes de forma flexível.
Evite-se:
- Precisa de máxima simplicidade e baixa sobrecarga → EXT4 é melhor.
- Vai usar RAID 5/6 → ainda arriscado.
- Workloads pesados de escrita aleatória (bancos de dados críticos, por ex.).
Por que você ouve muito sobre FAT32?
Quando você decide formatar seu Windows para um Sistema Operacional novo, normalmente opta por um pendrive para fazer todo o processo. Nesse caso, o FAT32 já aparece por padrão.
Este é o formato de arquivo usado para unidades USB, assim como cartões de memória, que dependem de uma compatibilidade alta com outros sistemas operacionais. Também é usado quando os arquivos não passam de 4gb.
E aí, este guia te ajudou? Deixe seu comentário contando sua opinião.
Fontes:
- https://opensource.com/article/17/5/introduction-ext4-filesystem
- https://en.wikipedia.org/wiki/Ext3
- https://phoenixnap.pt/glossário/ext3
- https://btrfs.readthedocs.io/en/latest/
Texto por: Victor / Revisão e complemento por: Tatyane